O INÍCIO

Capítulo I


Era uma vez uma adolescente, de seu nome Carolina, cujos 15 anos davam muito que pensar. Os seus pais estavam divorciados desde que tinha três anos e as recordações destes tempos eram praticamente inexistentes. Idolatrava o pai desde sempre, mesmo após todas as tentativas frustradas de aproximação. Qualquer segundo de carinho, qualquer sorriso ou a palavra “filha” vinda desta boca, deixavam-na derretida e mascaravam qualquer sombra do homem que tinha seguido a sua vida e que apenas se relacionava com a filha por imposição da família, em especial da sua mãe.
Cresceu num ambiente familiar aparentemente saudável, apesar das constantes discussões com a mãe. Embora não a considerasse culpada pela separação, a falta de relacionamento com o pai deixava-a revoltada e descontava a revolta na mãe, não lhe atribuindo apesar de tudo nenhuma culpa pelo divórcio. São sentimentos controversos, ainda mais quando experienciados em criança, sendo que acabam a ser exponenciados com a chegada de adolescência. Não se trata de uma atitude agressiva direccionada, mas de uma explosão de sentimentos que fogem ao controlo e que saem como fogo de artifício em todas as direcções. A mãe, por estar sempre presente, por ser a pessoa mais próxima, acaba a ser quase sempre o alvo do fogo disparado.
É a história típica de uma adolescente, excelente aluna, praticante de desporto, responsável, trabalhadora, mas que esconde uma parte da sua vida. Não será isto de estranhar numa adolescente. Todos sabemos que os adolescentes têm segredos. Desde os namoros, nem sempre com a pessoa certa, às experiencias nem sempre corretas ou agradáveis, como o primeiro bafo ou a primeira vez. Mas esta adolescente tem algo mais sombrio por detrás da aparência normal, algo que acontece dentro das paredes de casa, no silêncio da noite, no vazio da solidão.
Socialmente não posso dizer que seja a mais popular lá da escola, mas também não é anti-social. Pratica um desporto de equipa, que faz parte da sua rotina semanal vários dias por semana. Na escola convive com vários tipos de pessoas, embora nunca se sinta realmente encaixada. Prefere resguardar-se de amizades que a possam desvendar, que a possam magoar, não se inclui em grandes grupos de amigos, normalmente tem apenas uma ou duas amigas mais próximas e mesmo com essas não se revela totalmente.
No campo amoroso, já experienciou algumas relações, a maioria sem importância, fugaz e superficial. Não passa muito tempo sem uma relação. Precisa sentir-se amada e a figura masculina transmite-lhe complementaridade, talvez influenciada pela sua relação com o seu pai. Não tem medo de experimentar coisas novas, algumas delas talvez precoces para a sua idade. Embora possa parecer aos outros que o faz para agradar a quem está consigo, namorados ou amigos, a verdade é que o faz porque precisa de se sentir audaz. Carolina é uma rapariga curiosa e precisa de sentimentos fortes, que busca nestas atitudes menos lícitas, aventureiras e até perigosas. Apesar de tudo fá-lo discretamente e são muito poucos os que têm conhecimento de tais atitudes. Normalmente apenas uma a duas pessoas sabem de tais situações e nunca a mesma pessoa sabe de várias, isso permite resguardar-se e não se dar a conhecer totalmente. Se questionarmos os seus amigos, família ou conhecidos, todos terão uma opinião diferente sobre ela. Talvez concordem numa parte da descrição: Carolina é uma rapariga forte, determinada e que sabe o que quer. Mas será mesmo assim? Ou construiu uma muralha para se proteger?
A família é o mais importante para ela. Mas sente-se reprimida e incompreendida. Tudo o que faz é tentar ser a melhor em tudo. Sente que é uma obrigação e o que a família espera dela. É por isso que se esforça por ser a melhor aluna da escola, embora isso também lhe pareça sair naturalmente. É por isso que a irrita que se contentem com o “Satisfaz” do irmão, quando esperam o 100% dela. Carolina sente-se incompreendida e mal-amada, apesar de ter sempre sido uma criança adorada por todos, de ter conseguido ser sempre a melhor e de ter tudo o que sempre quis, ou pelo menos assim pareceu. Mas a verdade é que chegou agora aos seus 15 anos e continua a não se entender a si própria nem aos outros. Sente-se amargurada e desabafa com o seu diário. O único que conhece a sua verdadeira história.

E é aqui que a encontramos e que a história começa, sentada numa sala de biblioteca, num canto de uma sala, sozinha e a escrever. Mas antes de começar talvez seja importante conhecermos mais dos que rodeiam esta menina. Olhemos então um pouco para trás para conhecer a família, que tanta influencia tem na personalidade desenvolvida ou diria antes assumida por esta adolescente, não sendo eu psicóloga nem querendo entrar num campo sobre o qual não tenho o direito de dissertar.

Comentários

  1. Escreves muito bem. Vamos então esperar pelo futuro desta menina...

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  2. Obrigada querida! Vamos sabendo aos poucos... Beijinho

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